Pesquisadores discutem as contribuições de Paulo Freire para a área da Comunicação

Texto: Carlos Praxedes

O painel “Paulo Freire: Contributos para pensar a comunicação no espaço da Lusofonia” reuniu pesquisadores do Brasil e de Cabo Verde, na tarde desta terça-feira (3), durante a 47ª edição do Congresso de Ciências da Comunicação Nacional, sediado no campus da Univali, em Balneário Camboriú. Os contributos de Paulo Freire para a área da Comunicação foram a tônica do debate entre os professores Eduardo Meditsch, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Cicilia Maria Krohling Peruzzo, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Silvino Lopes Évora, da Associação Caboverdiana de Ciências da Comunicação. O debate foi mediado pelo professor Giovandro Ferreira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O professor Eduardo Meditsch abordou a importância da pedagogia de Paulo Freire como uma das possibilidades para minimizar os estragos da indústria da desinformação no país. “As ideias de Paulo Freire são um caminho para isso”. Segundo Meditsch, os governos de esquerda instalados no país desistiram de propor políticas públicas que combatam a desinformação. Meditsch acrescentou que ainda vivemos em uma era colonialista, na qual os Estados Unidos exercem permanente intervenção em outros países e que, portanto, não se pode falar em uma realidade pós-colonial. “É fundamental que tentemos buscar as respostas para essas questões e beber das ideias de Paulo Freire é uma das possibilidades para tentarmos entender a realidade na qual vivemos”, afirma.

A professora Cicilia Maria Krohling Peruzzo abordou a obra de Paulo Freire sobre a perspectiva da comunicação popular. Para ela, o diálogo de Freire se funde na relação teoria-prática. “É uma proposta educativa-cultural-política de profundidade. Tudo isso ligado a uma noção de emancipação. Ninguém emancipa ninguém, as pessoas podem se emancipar. E de transformação da realidade. Por isso que ele incomoda tanta gente”, destaca.

A pedagogia de Paulo Freire foi tão importante para o desenvolvimento do Brasil que suas ideias foram incorporadas pelas ONGs, Comunidades Eclesiais de Base e outras instâncias que trabalham a comunicação popular.  “Ao mesmo tempo que Paulo Freire teve um papel muito importante nas políticas públicas de uma época, com a ditadura militar o nome dele teve que desaparecer. Se Paulo Freire não está presente em nome em muitas propostas, ele está presente nas entrelinhas, porque houve uma apropriação de suas ideias. E pelo Brasil a fora ele não está nos currículos de comunicação, mas o nome dele está nas escolas de educação básica”.

A pesquisadora lembra que, na comunicação popular, não é o método de Paulo Freire, mas os princípios que importam. Na educação popular, o ponto de partida dos grupos é sempre uma dinâmica em que se levanta os temas e a partir disso o próprio grupo pensa em saídas, em atividades. O segundo aspecto de que a pedagogia Freireana está presente na educação popular está nas relações dialógicas e também no incentivo à ação proativa, no agir. Discutir a realidade mas também na busca de colaboração para a solução de determinado problema. “Diálogo para Freire não é o intercâmbio de ideias, mas o encontro de pessoas imediatizadas pelo momento”, conclui.

O professor Silvino Lopes Évora, da Associação Caboverdiana de Ciências da Comunicação explorou o universo da lusofonia enquanto espaço fragmentado repleto de múltiplas significações, campo de discursos, práticas e relações sociais, que circulam em diferentes lógicas conceptuais. De acordo com Silvino, olhamos para Paulo Freire e para aquilo que ele fez. Laços, partilha, comunicação. Toda a pedagogia que ele desenvolveu é uma pedagogia no sentido de integrar as pessoas num processo de transformação. “Olhando para Paulo Freire, eu gostaria de ressaltar que os processos de mediação social se fazem através de complexos processos de significação que criam referências para a história. Quando olhamos para as palavras extensão e comunicação, olhamos para ações, comportamentos e interações que são atos de partilha”, afirma.

Rachel Prates
Milena Julia
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